AS TOBOSSI
As Tobossis são Voduns infantis, femininas, de energia mais pura que
os demais Voduns. Pertenciam à nobreza africana, do antigo Dahome, atual
Benin. Eram cultuadas na Casa das Minas, em S.Luiz/Maranhão, até a
década de 60. As Tobossis gostavam de brincar como todas crianças e
falavam em dialeto africano, diferente dos Voduns adultos, o que
dificultava muito entendê-los. Sem contar que, muitas das palavras elas
falavam pela metade. Elas vinham três vezes por ano, quando tinha festas
grandes, que duravam vários dias. A chefe das Tobossis é Nochê Naé, a
grande matriarca da família Davice,ancestral da família real de Dahome, é
considerada a mãe de TODOS os Voduns. As Tobossis têm cânticos
próprios,dançavam na sala grande ou no quintal, sem os tambores e, como
todas as crianças, adoravam ganhar presentes e brincarem com bonecas e
panelinhas. Comiam comidas igual às nossas, junto com todos e tinham o
costume de dar doces e comidas às pessoas. Sentavam-se em esteiras. Pela
manhã, tomavam banho, comiam e depois dançavam. Gostavam de dançar no
quintal, em volta do pá de ginja delas. Por serem crianças puras, tinham
mais afinidade com o corpo permitindo assim, uma ligação mais direta
que os Voduns, que são adultos. Não tinham falhas, não se irritavam. Seu
papel no culto era só "brincadeira". Eram espíritos perfeitos e mais
elevados. Os Voduns podem ter falhas, as meninas não. Passavam até nove
dias incorporadas em suas gonjaí, diferente dos Voduns que deixavam as
filhas muito cansadas. Tinham um tratamento melhor do que o dos Voduns
por serem mais delicadas, porém os Voduns são mais importantes por terem
mais obrigações. Podemos observar similaridade entre as Tobossis do
Mina Jeje e os Erês dos Candomblés da Bahia e dos Xangôs de Pernambuco,
pelo comportamento infantil. No entanto, os Erês apresentam-se tanto com
características femininas quanto masculinas e as Tobossis são,
exclusivamente, femininas, dengosas e mimadas. FEITURA DAS TOBOSSIS O
processo de feitura das Tobossis inicia-se, normalmente, com o Vodum
principal da Casa apontando um grupo de filhas, já iniciadas
anteriormente, as voduncirrês, para a feitura de Tobossi. As voduncirrês
passam por uma fase de iniciação que tem a duração de quinze dias, nos
quais há algumas festas. É uma feitura própria, um novo rito de passagem
na graduação da iniciada no Mina Jeje. O barco composto dessas
voduncirrês é chamado de Barco das Novidades, Barco das Meninas ou Rama.
Essas voduncirrês tornam-se noviches, prontas para receberem suas
Tobossis, passando a serem chamadas gonjaí. As Tobossis só são recebidas
pelas voduncirrês gonjaí. O último barco que se tem conhecimento foi
realizado em 1913-1914. No processo de iniciação, as Tobossis eram
chamadas de sinhazinhas e, somente ao fim das feituras, é que davam seus
nomes africanos. Também eram por nomes africanos que elas chamavam as
filhas da Casa. Esses nomes eram escolhidos pelas Tobossis junto com os
Voduns e esses nomes eram divulgados no dia da "Festa de dar o Nome".
Cada Tobossi só vinha em uma gonjaí e, quando esta morria, elas não
vinham mais, sua missão ali se encerrava. Desde a morte das últimas
gonjaí, por volta dos anos 70, as Tobossis não vieram mais. As Tobossis
só incorporam em suas gonjaí após os Voduns terem "subido". Elas
chegavam alegres, batendo palmas e acordando a Casa. No Peji, há um
lugar para as obrigações das Tobossis, que é uma feitura muito fina e
especial. VESTIMENTAS E APETRECHOS DAS TOBOSSIS Os trajes e apetrechos
das Tobossis são muito elaborados. As Tobossis vestiam-se com saias
coloridas, usavam pulseiras chamadas dalsas, feitas com búzios e coral,
pano-da-costa colorido, o agadome, sobre os seios, deixando o colo e os
ombros livres para o ahungelê, uma manta de miçangas coloridas, presa no
pescoço, objeto de grande valor e significado. O ahungelê também era
chamado de tarrafa de contas, gola das Tobossis ou manta das Tobossis,
sendo considerado um distintivo étnico-cultural do Jeje. Ele conta a
história particular da Tobossi vinculada ao Vodum, sua família e a
iniciada, gonjaí. As Tobossis usavam ainda, vários rosários,
fios-de-contas e o cocre, colar de miçangas curto, junto ao pescoço como
uma gargantilha, usado pelas Tobossis e pelas gonjaí durante o ano de
feitura, cuja cores variam de acordo com seus Voduns, semelhante ao
quelê dos terreiros de Candomblé. No Carnaval, as Tobossis vestem-se com
saias muito vistosas, aparecendo o agadome que envolve o colo nu e os
pés são calçados em sandálias finas. Os trajes das Tobossis são muito
elaborados, de uma construção artesanal, que segue com rigor uma
linguagem cromática, própria e do domínio das Tobossis. A PARTICIPAÇÃO
DAS TOBOSSIS NAS FESTAS Quando apareciam publicamente, as Tobossis
vinham cumprir certas obrigações, destacando-se a festa do Carnaval. As
Tobossis vinham três vezes por ano: - Nas festas de Nochê Naé - em junho
e no fim do ano - No Carnaval As grandes festas duravam vários dias. O
Carnaval é uma comemoração da qual participavam os membros do Barracão e
visitantes. No Carnaval, elas ficavam desde a noite do domingo até as
14 hs da quarta-feira de cinzas. Na segunda-feira, alguns Voduns vinham
visitá-las. Eram recebidos pelas outras filhas da Casa, as voduncirrês.
Era das Tobossis a tarefa de tomarem conta das frutas do arrambam,
obrigação também conhecida como bancada, lembra a quitanda dos terreiros
de Candomblé. As frutas ficavam no Peji para serem distribuídas na
quarta-feira de cinzas. Durante o Carnaval, as Tobossis brincavam com pó
e confete mas tinham medo de bêbados e mascarados. Na terça-feira à
tarde, dançavam na grande sala e na quarta, pela manhã, dançavam em
volta da cajuazeira. Distribuiam acarajé em folhas de "cuinha" e depois
despachadas. Durante as grandes festas de Nochê Naé, elas vinham durante
nove dias, entre os dias de dança, nos intervalos de descanso. Ficavam
durante o dia, cantavam suas cantigas próprias, dançavam na sala grande e
no quintal e brincavam com seus brinquedos. O reconhecimento de cada
festa/obrigação está no vestuário e nos alimentos. O alimento é uma
marca identificadora, compõe a divindade, seu papel, suas
características no contexto da ligação com os deuses e estabelecendo,
ainda com o alimento, uma forma de comunicação com os iniciados,
visitantes e amigos do Barra
Nenhum comentário:
Postar um comentário