quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
OS 10 MANDAMENTOS DE IFÁ
1º Mandamento
Um sacerdote não deve enganar ao seu semelhante acenando com conhecimentos que não possui. E jamais dizer o que não sabe, ou seja, passar ensinamentos incorretos ou que não tenham sido transmitidos pelos seus mestres e mais velhos ou adquiridos de formas legítimas. É necessário o conhecimento verdadeiro para a prática da verdadeira religião.
Significado:
Quem abusa da confiança do próximo, enganando-o e manipulando-o através da ignorância religiosa, sofrerá graves conseqüências pelos seus atos. A natureza se incumbirá de cobrar os erros cometidos e isto se refletirá em sua descendência consangüínea e espiritual
2º Mandamento
O sacerdote deve saber distinguir entre o ser profano e o ser sagrado, o ato profano e o ato sagrado, o objeto profano e o objeto sagrado.
Significado:
Não se pode realizar rituais sem que se tenha investidura e conhecimento básico para realizá-los. Chamar a todos, é considerar a todos, indiscriminadamente, como seres talhados para a missão sacerdotal, o que é uma inverdade ou, o que é pior, uma manipulação de interesses. Da mesma forma que nem todas as contas servem para formar-se o colar de uma divindade (como as contas sagradas), nem todos os seres humanos nasceram fadados para a prática sacerdotal. Para ser um sacerdote são necessários inúmeros atributos morais, intelectuais, procedimentais e vocacionais. A simples iniciação de um ser profano, desprovido destes atributos básicos e essenciais, não o habilita como um sacerdote legítimo e legitimado. Da má interpretação e inobservância deste mandamento resulta a grande quantidade de maus sacerdotes que proliferam hoje em dia dentro do Culto. Observa-se a diferença entre “ser sacerdote” e “estar sacerdote”. Aquele que se submete à iniciação visando tão somente o status de sacerdote, jamais será um verdadeiro sacerdote. Estará sacerdote, cargo adquirido pela iniciação, mas jamais será sacerdote, condição imposta por sua vocação, dedicação, espiritualidade e desprendimento. Caberá ao sacerdote iniciador do neófito consultar Fá, com muito critério, para apurar se aquele noviço será realmente digno do sacerdócio
3º Mandamento
O sacerdote nunca deve desencaminhar as pessoas dando-lhes maus conselhos e orientações erradas.
Mensagem:
É inadmissível que um sacerdote se utilize do seu poder e do seu conhecimento religioso para, em proveito próprio, induzir ao erro aqueles que o cercam. Ao agirem desta forma, assumem a postura das aves noturnas que, nas trevas, saciam suas necessidades com o sacrifício e o suor alheio. Dar maus conselhos e orientações erradas é expor as pessoas aos perigos de energias maléficas e sem controle. Uma das mais importantes funções do sacerdote é orientar seu discípulo, conduzindo-o ao caminho correto, ao encontro da felicidade, de acordo com os ditames estabelecidos por seu destino pessoal e de seus ancestrais protetores.
Quem chega aos pés de Òrúnmìlá para consultar seu oráculo em busca de soluções, deve ser orientado pelo sacerdote corretamente, independente do interesse deste como olhador. A pessoa que chega com um problema deve ter seu problema solucionado e não vê-lo acrescentado de outros criados artificialmente com o fito de proporcionar a quem a consulta, vantagens financeiras ou possibilidade de conquistas e abusos sexuais.
4º Mandamento
Tudo deve ser feito de acordo com os ditames e os preceitos religiosos. A simples troca de uma simples folha pode ocasionar conseqüências maléficas ou tornar sem efeito um grande ritual da mesma forma que as folhas do Labá (Arágbà para os Nàgó) não são iguais às folhas de Ahoho (Akókò para os Nàgó).
Interpretação:
O sacerdote não pode, em nenhuma condição, utilizar-se de falsos recursos, fornecendo coisas sem validade religiosa como elementos de segurança ou de culto. Os procedimentos litúrgicos devem ser observados integralmente e a ninguém cabe o direito de fazer “isto” por “aquilo” quando em “aquilo” é que está a solução.
Aquele que utiliza de meios escusos e enganosos contra seus semelhantes, será culpado do crime de abuso de confiança. Aquele que usa de artifícios e mentiras contra as pessoas inocentes e de bom coração provoca o descontentamento de Òrúnmìlá e a conseqüente ira de Legbà.
Cada ser espiritual possui um nome individual, de acordo com a determinação de Yàvóvòdún. Da mesma forma, cada Legbà possui nome e identidade própria, assim como atributos específicos. É inadmissível, portanto, que este mediador tão sagrado e importante dentro do culto, seja assentado e entregue de maneira irresponsável, e que aqueles que a recebem permaneçam ignorantes do seu nome, qualidade, forma de tratamento e especificidade de função.
“Òrúnmìlá é aquele que nos olha com amor, não façamos por onde o mesmo possa nos olhar com desprezo”.
5º Mandamento
O saber é fundamental para quem quer fazer. Para tanto, é necessário o poder, que só o conhecimento pode outorgar.
Interpretação:
Um sacerdote não pode proceder a liturgias para as quais não seja habilitado através do processo iniciático ou cuja prática desconheça ou domine apenas parcialmente. Um sacerdote não deve ostentar uma sabedoria que na verdade não possua. Procurar saber não avilta, mas, pelo contrário, exalta o ser humano. O saber é condição básica para que se possa fazer. E todo ritual deve ser feito integralmente e com legitimidade total. Se houver dúvidas sobre algum procedimento, deve-se pesquisar profundamente sobre ele. Cabe ao sacerdote ensinar tudo o que sabe àqueles que o cercam e que nele confiam. A sonegação de ensinamentos corretos e completos implica na responsabilidade da prática de suicídio cultural. Da mesma forma, buscar orientação em quem sabe nada tem de humilhante e enaltece tanto àquele que busca como ao que fornece a orientação. A verdadeira sabedoria consiste na consciência da própria ignorância. Não existe ser neste mundo que saiba tudo!
“Deus não deu ao ignorante o direito de aprender sem antes tomar de quem sabe a obrigação de ensinar”
Humildade e desprendimento são atributos indispensáveis de um verdadeiro sacerdote.
Interpretação:
Um sacerdote não deve ser vaidoso de seus poderes, mas consciente deles. E não deve agir somente visando o próprio benefício, existe para servir e não para ser servido. A vaidade transforma o homem fraco de espírito num pavão que faz questão de exibir sua bela plumagem sem a consciência de que é a sua beleza que, despertando a atenção de terceiros, irá provocar a sua morte. Num Fádù (caminho de Ifá) encontramos narrativas que falam do exibicionismo do pavão que, ostentando a beleza de sua plumagem, atrai para si a atenção de todos que, depois de sacrificá-lo, transformam suas penas em belos leques e adornos. O verdadeiro sacerdote, o eleito pela divindade, não se preocupa em exibir seu poder nem o seu saber em disputas vãs e inconseqüentes. Acumula em si uma grande carga de sabedoria que transmite com dedicação a quem merece saber. O exibicionismo é um dos maiores defeitos num ser humano e inadmissível a um sacerdote. Já dizia o velho jargão: “Num burro carregado de açúcar, até o suor é doce”.
É assim que, aos olhos do sábio, parecem os exibicionistas: “burros carregando açúcar”.
7º Mandamento
As boas intenções devem prevalecer acima de tudo. A casa das divindades é o templo onde a iniciação é obtida.
Interpretação:
A iniciação não pode ser motivada por interesses que não sejam puramente religiosos. As verdadeiras intenções do iniciando devem ser cristalinas como a água pura. E desprovidas de qualquer outro objetivo que não seja servir à humanidade. Querer iniciar-se no culto por simples vaidade, para obter status social ou ostentar títulos sacerdotais é profanar o sagrado. Aquele que profana o sagrado tabernáculo das divindades, movido por qual for o motivo, pagará com duras penas o sacrilégio praticado. O conhecimento corresponde às responsabilidades que nem todos estão preparados para assumir. O conceito mais amplo simboliza a atitude de um predador que esconde suas garras procurando adquirir a confiança de sua vítima para ter base de agir no momento mais propício aos seus objetivos. A mesma responsabilidade assume aquele que inicia pessoas que não possuam os requisitos básicos exigidos para tal, visando aí, a simples vantagem financeira.
É muito melhor errar por não saber do que saber e persistir no erro.
8° Mandamento
A pena chamada Akpenin (ekodidé para o povo Nàgó) é um dos símbolos mais sagrados dentro do culto e, por este motivo, jamais deverá ser aviltada.
Significado:
Os sagrados fundamentos não podem ser usados com objetivos vãos. Os tabus devem ser integralmente observados sob pena de severas conseqüências. O sacerdote deve submeter-se de bom grado às interdições impostas por seu Fádù ou Odù pessoal, assim como aos tabus de sua divindade protetora. A observância destes ditames está diretamente ligada ao estado de submissão às divindades cultuadas. A obediência total às orientações de Fá conduz o homem à plenitude das bênçãos. Utilizar-se dos sagrados conhecimentos de forma leviana corresponde a profanar o sagrado. Não se deve utilizar o conhecimento para prejudicar a quem quer que seja. A prática do mal, invariavelmente, apresenta resultados mais rápidos, mas conduz a caminhos tortuosos que não têm volta. Da mesma forma, aquele que se utiliza deste conhecimento visando unicamente auferir vantagens econômicas, está em desacordo com os sagrados ditames e será responsabilizado por isto.
“Tornar vil um símbolo de iniciação como o Akpenin” é o mesmo que usar coisas sagradas com objetivos condenáveis e fúteis.
9° Mandamento
A sujeira e a falta de higiene são incompatíveis com o rito.
Significado
Os Elementos sagrados, indispensáveis ao ritual, hão de ser sempre muito puros e limpos. Da mesma forma, tudo deve ser limpo, os instrumentos, os ambientes, os assentamentos e principalmente, as atitudes. É inaceitável a falta de limpeza e de higiene em qualquer aspecto, quer seja físico, ambiental ou moral. O sacerdote deve ser escrupuloso com tudo. Seus instrumentos litúrgicos, os altares das divindades cultuadas, seus trajes e seu corpo.
Tudo aquilo que antecede a um rito e que a ele faça referência, deve ser realizado com limpeza e religiosidade.
Da mesma forma que o ritual deve ser cercado de cuidados de limpeza, a confecção das comidas e oferendas deve seguir os mesmos princípios. Preparar as comidas ritualísticas é também um rito e deve ser realizado em total circunspeção e concentração religiosa. Durante a preparação das ofertas e comidas ritualísticas a atitude de quem dela participa deve ser a mesma de quem participa do ritual em si. É inadmissível que, neste momento sagrado, as pessoas estejam consumindo bebidas alcoólicas, falando coisas vulgares, discutindo, brigando ou tentando exibir seus conhecimentos, humilhando a quem sabe menos. A postura será sempre sacerdotal, o silêncio e a concentração devem ser mantidos e, ensinar a quem não sabe ou a quem sabe menos, é uma obrigação sagrada.
10° Mandamento
Não se deve retirar a bengala de um cego. (A bengala de um cego substitui seus olhos e indica os obstáculos que se interpõem em seu caminho).
Significado:
O sacerdote não pode prevalecer-se de sua carga de conhecimento para humilhar ou confundir a ninguém. O sacerdote há de ter o mais profundo respeito pelos que sabem menos. Ninguém tem o direito de descaracterizar o que os outros sabem e acreditam. Abalar a fé de quem sabe pouco ou nada sabe, é retirar a bengala de um cego, deixando-o sem qualquer orientação nas trevas em que caminha. Uma das mais importantes missões do sacerdote é ensinar e orientar. Muitas vezes surgem pessoas que nada sabem e julgam saber. É neste momento que o sábio aflora no sacerdote e a orientação correta e o ensinamento certo são passados, com doçura, sutileza e humildade, sem melindrar a quem os recebe e sem provocar confusões em sua cabeça. Tudo deve ser ensinado com clareza e lógica. O Sacerdote, no exercício de seu sacerdócio, assume também a missão de mestre
rmanecer, sempre, impecavelmente limpos. Nenhum Vòdún admite a sujeira, seja ela física ou moral.
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